terça-feira, 27 de agosto de 2013

Review 6


Epica – Requiem for the Indifferent

“Prece pelos mortos.
Música cantada durante os velórios ou simplesmente para homenagear os mortos”, fonte.

Observação: Réquiem está explicado acima e “for the indifferent”, aqui, indiferente, são todos aqueles que não pensam serem importantes questões sociais e ambientais do mundo, principalmente ambientais e, para qual direção o materialismo desenfreado – que não calcula o efeito de exploração do meio ambiente – pode ter para os seres humanos. O legal é que a capa e o título já deixam bem claro que tipo de crítica, também à maquinação, nós vamos encontrar nas letras do álbum.

Karma: é a faixa que anuncia. Anuncia porque a forma que a bateria é usada não é sem intenção, pois não tem como não se sentir ansioso para o que vem a seguir. Também penso que o coro é interessante, ele quebra o ritmo e ajuda a alimentar o imaginário.

Monopoly on truth: Epica é uma banda complicada de ser analisada em simples Reviews porque 1) há o que dá pra entender; 2) o que não dá pra ter ideia do que estão falando; 3) os prenúncios dos álbuns futuros – lembrando que todos eles falam de algum tema crítico; 4) ou mesmo complementos de letras do passado. Além disso, também há de ser analisado a) a estrutura musical é complexa, todo segundo tem uma proposta diferente; e b) as letras (todas) tem uma profundidade sem igual. Dito isso podemos passar para a primeira faixa de ‘Requiem for the Indifferent’. A começar pela conexão com ‘Karma’, ‘Monopoly on truth’ começa com tudo. O uso de latim é muito frequente e dá a ideia “épica” que o nome da banda sempre tenta passar. Depois do trabalho inicial a Simone e o Mark tem uma participação rápida, seguida do retorno dos coros. A música segue nessa variação de turnos, com muitas mudanças técnicas que são quase impossíveis de serem comentadas aqui, até o refrão em 3:26min. Eu tenho que dizer que acho esse refrão um dos mais lindos e intensos que eu já ouvi – ou que existem. Logo em 3:48min há uma pausa estrutural e o enfoque na voz da Simone totalmente inesperados. O legal dessa banda é exatamente isso, no começo você não podia esperar tanta variação e momentos bonitos ao longo da canção. A música retorna ao Mark-Simone-coro variação, mas, preste atenção, é diferente da inicial! Em 6:04min há o refrão solo que a Simone faz, seguido de guitarra e finalizado com o coro total. Vale lembrar que a importância de Epica é diferente de outras bandas e vale um pedaço aqui das letras mais fortes e impactantes, uma vez que elas não podem ser deixadas de lado em uma análise. Para ‘Monopoly on truth’ vai o refrão:

“Can we trust all the facts and believe that the fancied wise are just and needed?
Do we want to rely on the views of the righteous ones who are succeeding?
If you look all around and you see all the things that are not meant to be
then you know it's time to let them go”.


Storm the sorrow: esse foi o primeiro single do álbum. Normalmente os singles são mais pop, mas não no caso de Epica. Ou então os singles são curtos e românticos. Também não é o caso dessa banda. ‘Storm the sorrow’ é uma música sobre quem você é, sobre questionamentos de superação e depressão, além de ter mais de 5min e um videoclipe fenomenal. Em linhas gerais, é a Simone e leves coros que fazem o trabalho, só em 3:30min que o Mark dá uma forcinha. Aqui a estratégia é similar à de ‘Monopoly on truth’, após o gutural, primeiro o refrão com a Simone acompanhada de piano, ou seja, um refrão mais solo; seguido pelo refrão completo.

Delirium: tenso mesmo é falar de ballad que, em outras palavras, são as músicas mais lentas de um álbum. No caso de ‘Requiem for the indifferent’, ‘Delirium’ é a ÚNICA ballad do álbum. O que isso significa? Significa que eles sabiam que tinham que caprichar em níveis astronômicos, já que esse vai ser o único stop, o único relax, do álbum. E foi isso que eles fizeram. O começo é de um coro harmonioso, seguido de piano e Simone. A parte cantada é repetida algumas vezes, mas cada vez que é repetida é somente na melodia, pois a letra muda e, ainda que repetida na melodia, há mudanças. Em 2:25min o refrão é representado e, pra variar, a voz da Simone faz todo o trabalho: vai até você, arranca seu coração e deixa ele em algum lugar abandonado até você resolver acordar e se tocar do que foi que você acabou de ouvir. Até 3:39min o fundo musical acompanhava a vocalista, em 3:39min o fundo torna a música mais intensa e maior. Em 4:15min a faixa fica um pouquinho mais sombria, ampliada por um solo de guitarra e, enfim, retornando ao normal. ‘Delirium’ encerra com a Simone repetindo as frases principais de forma mais pausada.

Internal Warfare – agora o álbum volta ao ‘normal’, um tom mais pesado que vai carregar até sua última faixa. O assunto também começa a ficar mais sério e o foco da letra são questionamentos sobre coragem, convicções e conservadorismo. Depois do som introdutório, a Simone abre a música com as perguntas:

“Would anybody dare to know the answer?
Would anybody dare to face the truth?
We bide the time awaiting our answers to our kind”.


De cara eles deixam claro que estamos num processo apocalíptico e precisamos acordar. Para isso, devemos fazer mais perguntas e medir as consequências do consumismo e capitalismo atuais. A música segue com a Simone e o coro e tem uma mudança em 2:53min, onde o Mark tem rápida participação, o coro intercala e em 4:22min, depois do solo de guitarra, a música retorna ao refrão e encerra com o coro num tom mais agudo.

Requiem for the indifferent: no meu modo de ver, essa faixa é uma obra totalmente experimental de Epica que deu muito, mas muito certo. Eles usam muito sons considerados para nós como sons orientais e é com esses sons que essa faixa começa, mas veja bem, a quantidade de mudanças desses oito minutos e pouco mostra que eles foram razoavelmente planejados e, aparentemente, os buracos foram sendo preenchidos conforme a produção e ficou excelente. Exemplos de mudança? 0:01min até 1:23min; 1:23min até 2:17min; 2:17min até 2:44min; 2:44min até 3:20min; 3:20min até 3:46min; 3:46min até 4:36min; 4:36min até 5:19min; 5:19min até 5:50min; 5:50min até 6:53min; 6:53min até 7:17min; 7:17min até 8:02min; 8:02min até 8:33min. São cerca de 12 mudanças no som em oito minutos. E eu tô falando sério! Eu não sei qual a linha do possível harmônico pra fazer tanta mudança soar tão correta o tempo inteiro, só sei que o conjunto fez muito, MUITO, sentido. É uma música pra se abrir no player, quem tem, ou no Youtube, quem ainda não tem, e realmente acompanhar. Vale prestar atenção na crítica do refrão:

“With money segregating
the centers are degrading
the devastation
we feared we’d befall
but soon we’ll realize that
we can get reunited
this could apply to us all, after all
we’ll never find our peace of mind
if we don’t leave the past behind
make up your mind”.


Anima: essa é uma faixa de intervalo, simboliza o meio do álbum e dá uma pequena relaxada no ouvinte e também procura prepará-lo para a segunda parte. É uma faixa de piano com 1:25min de duração que simboliza uma faixa futura.

Guilty demeanor: é a menor canção do álbum. Fala um pouquinho do que cada um enfrenta e pensa e que, quando pensa algo fora das histórias-padrão, tem que ter mais força ainda para enfrentar a quantidade de oposições, pois se descobre sozinho. ‘Guilty demeanor’ começa com algum peso e intervalos sonoros, avança com a Simone, dando espaços periódicos para o Mark ou para o coro participar. É uma das minhas melodias favoritas de ‘Requiem for the indifferent’.

Deep water horizon: essa música começa com instrumentos mais lentos, de forma a dar a ideia de mais uma ballad, mas ela não é. Simone inicia e canta até 0:53min, momento no qual a música começa a ganhar mais profundidade técnica com a entrada da bateria. E em 1:34min o refrão é apresentado pela primeira vez. A canção segue o mesmo estilo até 3:17min, é aí que alcança o estopim de ‘Deep water horizon’ com um belíssimo trabalho instrumental e rápidas interferências do Mark e, no final, da Simone. Esta dá o tom de retorno ao refrão e encerra a música de forma diferenciada ao cantar frases prolongadas.

Stay the course: ‘Stay the course’ e a próxima faixa, ‘Deter the tyrant’, são faixas bem parecidas em minha opinião. As duas são pesadinhas e tem uma participação mais ativa do Mark. ‘Stay the course’ mesmo é o Mark quem canta e a Simone tem ou participações rápidas ou canta somente o refrão. O legal dessa faixa é o trabalho de fundo também e o tema: manter o curso. A quantidade de valores antigos que possuímos e mantemos sem nos questionar se eles ainda se aplicam às mudanças ocorrendo no presente e, além disso, o medo que algumas pessoas têm de mudar, escondendo-se, portanto, atrás das frases conformistas de “não vai adiantar” ou “as coisas sempre foram assim”.

Deter the tyrant: essa música começa de forma intensa e a Simone é quem começa, intercalada pelo coro. O primeiro refrão é seguido pela guitarra, que dá a ideia de que ainda há muito pela frente. A fórmula se repete até o refrão que, dessa vez, tem mais algumas linhas e quando termina, em 3:10min, a Simone e o coro mostram um pedaço novo possível com as notas até então utilizadas. O Mark faz seu gutural por alguns segundos e, em 3:38min, a Simone retorna por mais alguns segundos, os dois levam à 3:54min, momento no qual o coronel Gaddafi, libanês, se expressa, pois a banda sempre coleta frases de representantes estatais do presente e do passado pra fundamentar suas críticas. Depois disso, a Simone “brinca” um pouco com a voz e em 4:33min o discurso fica mais sério com Mark. A vocalista tem mais uma rápida participação, Mark retorna ainda de forma mais intensa, o auge de ‘Deter the tyrant’ começa e lidera os sons ao retorno do refrão, quando a música termina.

Avalanche: agora eu conto o meu segredo para vocês: as duas últimas faixas do álbum, ou seja, essa e a próxima são, de longe, as minhas favoritas de ‘Requiem for the indifferent’, então vamos sentar, aumentar o som e ouvi-las com muita calma. ‘Avalanche’ inicia de forma que me lembra do infinito, do universo, do místico e coisas desse tipo. É uma faixa que vai crescendo até alcançar a completude, vamos ver como isso ocorre. De 0:01min até 1:14min a música segue o tom místico; já em 1:14min o forma começa a ser delineada e, em 1:43min, com a bateria, ‘Avalanche’ já assume o esqueleto. Depois da participação do Mark, que eu considero o sangue fluindo, o coração retorna a bater. A música fica ritmada com alma. De 3:27min até 4:27min é como se o conjunto todo brincasse com o ouvinte e é impossível não segurar na mão desse som tão orgânico. O Mark canta mais um pouco e em 5:31min a Simone apresenta o que, em 5:50min, vai fazer você e seu mais novo parceiro orgânico explodirem em estrelas.

Serenade of self-destruction: mas não acabou. ‘Serenade of self-destruction’ é a última faixa oficial do álbum e, lembram de ‘Anima’? Pois é. Ela continua em ‘Serenade’ e, eu devo dizer, que essa é uma das músicas mais bonitas e bem trabalhadas do meu conhecimento. Depois da introdução que prolonga ‘Anima’, a música realmente define a ‘alma’ – que é anima em latim -, e o primeiro coro em latim aparece, seguido pelo Mark. Isso se repete e em 2:48min a Simone entra com o tom de voz totalmente participativo. Ela e o Mark estão ‘se desafiando’, por assim dizer, ao que ele diz que ela não vai conseguir cumprir com sua missão e o refrão dela é: “Try me, don't deny me”, querendo dizer que não a teste porque ela acredita que vai conseguir, maaas, o resto do refrão deixa bem claro, que, pra ela, é uma missão suicida. Até aqui foram miraculosos 4:50min, o que parecia até então um mero piscar de olhos pra quem ouve. Um longo solo Simone com direito aos sons orientais que eu comentei antes vem a seguir. A letra desse momento é:

“I’d rather die
than breathe in my shame
they’ll know my name
all hell in flames”.


Após a Simone, o coro retorna e tem uma longa participação que a Simone encerra ao voltar e, em 7:45min, o instrumental faz um passeio e explora seus potenciais. Claro que essa produção toda só poderia terminar de uma única forma, que é o encaixe perfeito no último refrão eternalizante.

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