sábado, 19 de janeiro de 2013

Ao fim da(s) reta(s).

Não sabia se sorria ou se sofria. Vivia debatendo-se entre paredes em um eterno labirinto dentro de sua mente, o mais sufocante que há de haver. Já havia passado pelas janelas da eternidade, pelas promessas de um futuro brilhante, da crença e do amor. Já havia transitado na dualidade, no claro e no escuro, no sol e na lua, no forte e no fraco. Pareciam não restar muitas opções, mergulhou então na total descrença. Afinal, não há esperança eterna! Nem dualidades no mundo! Nossa cabeça faz tudo, tudo! - Repetia incontáveis vezes. Mas onde caíra? No abismo. Não havia se translocado geograficamente, não. Mas dentro de seus pensamentos o labirinto passara a ser dor. Só dor. Pensava em punições constantes porque não conseguia mais alcançar satisfações significativas. Parecia um redemoinho e, a qualquer tentativa de sair, afogava-se novamente. Eis que mudanças ocorreram em sua rotina e um pingo do otimismo ocidental adentrou seu chapéu. Será que o próximo estágio seria de concluir que não há nada mais que se fazer mesmo? Procuraria válvulas de escape diárias como álcool, drogas, sexo, viagens, loucuras; ou se entregaria ao não-saber, ao estatelar fora da atmosfera, sem oxigênio, deixando-se morrer? Sorria lentamente com essas perguntas de duas mãos. Por que? Por que transformava o mundo em algo tão simplório? Sabia que não era assim, que jamais poderia ser! Porém, o que poderia fazer se o ser humano pode ser tão frágil que precisa construir barreiras de conforto nas dores mais azedas e profundas de sua fugaz existência? Pensava em nada enfim, resmungava algo e recitava algumas palavras ao som do ponto mais alto do dia:

Nada e tudo;
não criaram ainda uma palavra que descreva
os oceanos que entremeiam essas duas distâncias
menos ainda, por sim
pensaram naquelas que poderiam extinguir os dois fins da reta
porque reta não há
direção nunca houve
e solução, talvez, há de ser uma bem infeliz para
nós.

Sofria mais do que sempre sofreu e soltava a única lembrança de alguém importante de suas mãos naquele mesmo vento. O som do objeto caindo na areia eternizou aqueles segundos, quase como se passassem em câmera lenta, o sangue e as lágrimas foram se reunir à mágoa derramada.

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