sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Significados e desabafo

Talvez eu devesse falar mais vezes o que se passa aqui dentro. Eu faço muito pouco isso porque acredito que só com os pensamentos, música alta e algumas horas de sono tudo vá embora. Não vai. É um processo cumulativo de achar que você é insignificante até com o que você já foi importante antes. Não foi a situação que mudou, você mudou. Você mudou porque era muito mais fácil ver aquelas coisas quando elas eram raras e você não tinha se entregado para elas. Acontece que você muda quando você está entregue e o resto das pessoas não estão, e aquelas coisas já não são mais raras. Você as antecipa, você já sabe e já delimita as bordas de tudo antes de acontecer, eis que você se torna uma pessoa ansiosa. Talvez essa antecipação seja o tal "ser adulto" que alguns reagem fugindo antes de se decepcionar e outros preferem dar mais chances porque anteriormente podem ter se escondido demais. Qualquer que seja a sua situação, é uma cilada. No fim você é insignificante se ficar com uma pessoa só. Na nossa época as pessoas desistem e vão para outra. Só te jogam fora porque já sugaram mesmo o que você tinha de melhor. Você é sozinho, sempre foi e sempre será. Você se entrega para desacreditar. Com descrédito você quer acreditar de novo, não consegue, a ansiedade retorna. Ter pessoas diferentes na sua vida faz o que eu sempre temi: te revaloriza. Porque esperar que uma pessoa só vá te revalorizar ao longo do tempo é rir no vácuo: um som que ecoa e você se acostuma, mas não ocupa espaço algum. A esperança é mais ou menos isso. E pensar que eu fugi dela a vida inteira, quando me estabeleço para confiar, não existe aproximação que faça efeito. Se pudesse eu jogava fora todos aqueles que acham que pensar e ser como uma máquina é melhor, que a competitividade é melhor do que a cooperação. Tais pessoas sempre existiram de alguma forma, mas nunca foram a maioria. Agora que elas são a maioria, eu nasci e queria não ter tido esse privilégio.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Nietzsche: As reverberações de uma sequência de eventos em um ser histórico



'Deve-se perguntar, portanto, o que se passava em território alemão e, mais extensamente, na Europa no geral enquanto o filósofo vivia. Quando ele nasceu não havia uma Alemanha, somente províncias da Áustria e Prússia. Em 1871 Nietzsche viu a unificação do território ser estruturada e solidificada tendo como chefe de Estado o chanceler Otto von Bismarck. Esse é um dos acontecimentos desse ano que marcaram o filósofo, o e outro se dava na França: a Comuna de Paris.

A Guerra Franco-Prussiana, guerra de 1870-1871, estabelece uma clivagem nas relações da Alemanha e França, afinal essas duas potências já vinham travando batalhas desde as Guerras Napoleônicas. Tal guerra envolvia interesses de equilíbrios de poder entre França e o então Império Prussiano, que terminaram por concluir com a vitória alemã e o ímpeto da unificação gerido por Bismarck.

Bismarck primeiramente era hostil à unificação e, portanto, os alemães não lhe adoravam. O plano inicial do chanceler era o de excluir a Áustria de seu território e, para isso, foram necessárias, em média, três guerras. No entanto, embora o interesse fosse o de tirar a Áustria de campo e não fomentar necessariamente o espírito de junção do território alemão, Bismarck se aproveitou de uma oportunidade de enfraquecimento do exército francês e tomou a Alsácia e a Lorena, territórios franceses; esta medida acabou por cimentar decisivamente o desejo dos alemães de se unificarem .

A Comuna de Paris, apesar de ocorrer na França, em 1871, tem impacto sobre Nietzsche. O acontecimento se refere à tomada de poder pelos operários durante três meses e, apesar de ter falhado sua permanência no domínio, a Comuna conquistou muitas reformas no meio trabalhista como: fim do trabalho noturno, descontos em salários foram abolidos, os sindicatos foram legalizados, o cargo de juiz se tornou eletivo, institui-se a igualdade entre sexos, entre outras. Para Nietzsche, o povo não deveria subir no poder, somente os homens devidamente estudados deveriam exercer tal obrigação. Além do mais, para o filósofo, o povo jamais deveria ter consciência de como é oprimido, do contrário, tomaria conta de toda a sociedade e iria distorcê-la. Nietzsche nunca explica exatamente esses sentimentos, talvez aponte que as pessoas sem condições de bons estudos não nutrem “virtudes”, mas isso não explica muita coisa. De qualquer forma, o que ele deixou claro é que a destruição de museus, causada pelos operários em Paris, realmente o deixou com impressões negativas sobre o operariado e o povo, no geral, daquele momento em diante, o que mostra que o acontecimento histórico o influenciou de alguma maneira em sua posição.

Assim, após esse apanhado biográfico em Nietzsche e bem geral em território alemão e suas delimitações, é possível estabelecer melhor o que chegava ao filósofo além dos “problemas” internos, ou seja, as turbulências mais características da segunda metade do século XIX e como estes fatos afetaram Nietzsche, o que prova sempre que ele era um homem de seu tempo'.

Trecho de conclusão de curso acadêmico, 2012.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Review 6


Epica – Requiem for the Indifferent

“Prece pelos mortos.
Música cantada durante os velórios ou simplesmente para homenagear os mortos”, fonte.

Observação: Réquiem está explicado acima e “for the indifferent”, aqui, indiferente, são todos aqueles que não pensam serem importantes questões sociais e ambientais do mundo, principalmente ambientais e, para qual direção o materialismo desenfreado – que não calcula o efeito de exploração do meio ambiente – pode ter para os seres humanos. O legal é que a capa e o título já deixam bem claro que tipo de crítica, também à maquinação, nós vamos encontrar nas letras do álbum.

Karma: é a faixa que anuncia. Anuncia porque a forma que a bateria é usada não é sem intenção, pois não tem como não se sentir ansioso para o que vem a seguir. Também penso que o coro é interessante, ele quebra o ritmo e ajuda a alimentar o imaginário.

Monopoly on truth: Epica é uma banda complicada de ser analisada em simples Reviews porque 1) há o que dá pra entender; 2) o que não dá pra ter ideia do que estão falando; 3) os prenúncios dos álbuns futuros – lembrando que todos eles falam de algum tema crítico; 4) ou mesmo complementos de letras do passado. Além disso, também há de ser analisado a) a estrutura musical é complexa, todo segundo tem uma proposta diferente; e b) as letras (todas) tem uma profundidade sem igual. Dito isso podemos passar para a primeira faixa de ‘Requiem for the Indifferent’. A começar pela conexão com ‘Karma’, ‘Monopoly on truth’ começa com tudo. O uso de latim é muito frequente e dá a ideia “épica” que o nome da banda sempre tenta passar. Depois do trabalho inicial a Simone e o Mark tem uma participação rápida, seguida do retorno dos coros. A música segue nessa variação de turnos, com muitas mudanças técnicas que são quase impossíveis de serem comentadas aqui, até o refrão em 3:26min. Eu tenho que dizer que acho esse refrão um dos mais lindos e intensos que eu já ouvi – ou que existem. Logo em 3:48min há uma pausa estrutural e o enfoque na voz da Simone totalmente inesperados. O legal dessa banda é exatamente isso, no começo você não podia esperar tanta variação e momentos bonitos ao longo da canção. A música retorna ao Mark-Simone-coro variação, mas, preste atenção, é diferente da inicial! Em 6:04min há o refrão solo que a Simone faz, seguido de guitarra e finalizado com o coro total. Vale lembrar que a importância de Epica é diferente de outras bandas e vale um pedaço aqui das letras mais fortes e impactantes, uma vez que elas não podem ser deixadas de lado em uma análise. Para ‘Monopoly on truth’ vai o refrão:

“Can we trust all the facts and believe that the fancied wise are just and needed?
Do we want to rely on the views of the righteous ones who are succeeding?
If you look all around and you see all the things that are not meant to be
then you know it's time to let them go”.


Storm the sorrow: esse foi o primeiro single do álbum. Normalmente os singles são mais pop, mas não no caso de Epica. Ou então os singles são curtos e românticos. Também não é o caso dessa banda. ‘Storm the sorrow’ é uma música sobre quem você é, sobre questionamentos de superação e depressão, além de ter mais de 5min e um videoclipe fenomenal. Em linhas gerais, é a Simone e leves coros que fazem o trabalho, só em 3:30min que o Mark dá uma forcinha. Aqui a estratégia é similar à de ‘Monopoly on truth’, após o gutural, primeiro o refrão com a Simone acompanhada de piano, ou seja, um refrão mais solo; seguido pelo refrão completo.

Delirium: tenso mesmo é falar de ballad que, em outras palavras, são as músicas mais lentas de um álbum. No caso de ‘Requiem for the indifferent’, ‘Delirium’ é a ÚNICA ballad do álbum. O que isso significa? Significa que eles sabiam que tinham que caprichar em níveis astronômicos, já que esse vai ser o único stop, o único relax, do álbum. E foi isso que eles fizeram. O começo é de um coro harmonioso, seguido de piano e Simone. A parte cantada é repetida algumas vezes, mas cada vez que é repetida é somente na melodia, pois a letra muda e, ainda que repetida na melodia, há mudanças. Em 2:25min o refrão é representado e, pra variar, a voz da Simone faz todo o trabalho: vai até você, arranca seu coração e deixa ele em algum lugar abandonado até você resolver acordar e se tocar do que foi que você acabou de ouvir. Até 3:39min o fundo musical acompanhava a vocalista, em 3:39min o fundo torna a música mais intensa e maior. Em 4:15min a faixa fica um pouquinho mais sombria, ampliada por um solo de guitarra e, enfim, retornando ao normal. ‘Delirium’ encerra com a Simone repetindo as frases principais de forma mais pausada.

Internal Warfare – agora o álbum volta ao ‘normal’, um tom mais pesado que vai carregar até sua última faixa. O assunto também começa a ficar mais sério e o foco da letra são questionamentos sobre coragem, convicções e conservadorismo. Depois do som introdutório, a Simone abre a música com as perguntas:

“Would anybody dare to know the answer?
Would anybody dare to face the truth?
We bide the time awaiting our answers to our kind”.


De cara eles deixam claro que estamos num processo apocalíptico e precisamos acordar. Para isso, devemos fazer mais perguntas e medir as consequências do consumismo e capitalismo atuais. A música segue com a Simone e o coro e tem uma mudança em 2:53min, onde o Mark tem rápida participação, o coro intercala e em 4:22min, depois do solo de guitarra, a música retorna ao refrão e encerra com o coro num tom mais agudo.

Requiem for the indifferent: no meu modo de ver, essa faixa é uma obra totalmente experimental de Epica que deu muito, mas muito certo. Eles usam muito sons considerados para nós como sons orientais e é com esses sons que essa faixa começa, mas veja bem, a quantidade de mudanças desses oito minutos e pouco mostra que eles foram razoavelmente planejados e, aparentemente, os buracos foram sendo preenchidos conforme a produção e ficou excelente. Exemplos de mudança? 0:01min até 1:23min; 1:23min até 2:17min; 2:17min até 2:44min; 2:44min até 3:20min; 3:20min até 3:46min; 3:46min até 4:36min; 4:36min até 5:19min; 5:19min até 5:50min; 5:50min até 6:53min; 6:53min até 7:17min; 7:17min até 8:02min; 8:02min até 8:33min. São cerca de 12 mudanças no som em oito minutos. E eu tô falando sério! Eu não sei qual a linha do possível harmônico pra fazer tanta mudança soar tão correta o tempo inteiro, só sei que o conjunto fez muito, MUITO, sentido. É uma música pra se abrir no player, quem tem, ou no Youtube, quem ainda não tem, e realmente acompanhar. Vale prestar atenção na crítica do refrão:

“With money segregating
the centers are degrading
the devastation
we feared we’d befall
but soon we’ll realize that
we can get reunited
this could apply to us all, after all
we’ll never find our peace of mind
if we don’t leave the past behind
make up your mind”.


Anima: essa é uma faixa de intervalo, simboliza o meio do álbum e dá uma pequena relaxada no ouvinte e também procura prepará-lo para a segunda parte. É uma faixa de piano com 1:25min de duração que simboliza uma faixa futura.

Guilty demeanor: é a menor canção do álbum. Fala um pouquinho do que cada um enfrenta e pensa e que, quando pensa algo fora das histórias-padrão, tem que ter mais força ainda para enfrentar a quantidade de oposições, pois se descobre sozinho. ‘Guilty demeanor’ começa com algum peso e intervalos sonoros, avança com a Simone, dando espaços periódicos para o Mark ou para o coro participar. É uma das minhas melodias favoritas de ‘Requiem for the indifferent’.

Deep water horizon: essa música começa com instrumentos mais lentos, de forma a dar a ideia de mais uma ballad, mas ela não é. Simone inicia e canta até 0:53min, momento no qual a música começa a ganhar mais profundidade técnica com a entrada da bateria. E em 1:34min o refrão é apresentado pela primeira vez. A canção segue o mesmo estilo até 3:17min, é aí que alcança o estopim de ‘Deep water horizon’ com um belíssimo trabalho instrumental e rápidas interferências do Mark e, no final, da Simone. Esta dá o tom de retorno ao refrão e encerra a música de forma diferenciada ao cantar frases prolongadas.

Stay the course: ‘Stay the course’ e a próxima faixa, ‘Deter the tyrant’, são faixas bem parecidas em minha opinião. As duas são pesadinhas e tem uma participação mais ativa do Mark. ‘Stay the course’ mesmo é o Mark quem canta e a Simone tem ou participações rápidas ou canta somente o refrão. O legal dessa faixa é o trabalho de fundo também e o tema: manter o curso. A quantidade de valores antigos que possuímos e mantemos sem nos questionar se eles ainda se aplicam às mudanças ocorrendo no presente e, além disso, o medo que algumas pessoas têm de mudar, escondendo-se, portanto, atrás das frases conformistas de “não vai adiantar” ou “as coisas sempre foram assim”.

Deter the tyrant: essa música começa de forma intensa e a Simone é quem começa, intercalada pelo coro. O primeiro refrão é seguido pela guitarra, que dá a ideia de que ainda há muito pela frente. A fórmula se repete até o refrão que, dessa vez, tem mais algumas linhas e quando termina, em 3:10min, a Simone e o coro mostram um pedaço novo possível com as notas até então utilizadas. O Mark faz seu gutural por alguns segundos e, em 3:38min, a Simone retorna por mais alguns segundos, os dois levam à 3:54min, momento no qual o coronel Gaddafi, libanês, se expressa, pois a banda sempre coleta frases de representantes estatais do presente e do passado pra fundamentar suas críticas. Depois disso, a Simone “brinca” um pouco com a voz e em 4:33min o discurso fica mais sério com Mark. A vocalista tem mais uma rápida participação, Mark retorna ainda de forma mais intensa, o auge de ‘Deter the tyrant’ começa e lidera os sons ao retorno do refrão, quando a música termina.

Avalanche: agora eu conto o meu segredo para vocês: as duas últimas faixas do álbum, ou seja, essa e a próxima são, de longe, as minhas favoritas de ‘Requiem for the indifferent’, então vamos sentar, aumentar o som e ouvi-las com muita calma. ‘Avalanche’ inicia de forma que me lembra do infinito, do universo, do místico e coisas desse tipo. É uma faixa que vai crescendo até alcançar a completude, vamos ver como isso ocorre. De 0:01min até 1:14min a música segue o tom místico; já em 1:14min o forma começa a ser delineada e, em 1:43min, com a bateria, ‘Avalanche’ já assume o esqueleto. Depois da participação do Mark, que eu considero o sangue fluindo, o coração retorna a bater. A música fica ritmada com alma. De 3:27min até 4:27min é como se o conjunto todo brincasse com o ouvinte e é impossível não segurar na mão desse som tão orgânico. O Mark canta mais um pouco e em 5:31min a Simone apresenta o que, em 5:50min, vai fazer você e seu mais novo parceiro orgânico explodirem em estrelas.

Serenade of self-destruction: mas não acabou. ‘Serenade of self-destruction’ é a última faixa oficial do álbum e, lembram de ‘Anima’? Pois é. Ela continua em ‘Serenade’ e, eu devo dizer, que essa é uma das músicas mais bonitas e bem trabalhadas do meu conhecimento. Depois da introdução que prolonga ‘Anima’, a música realmente define a ‘alma’ – que é anima em latim -, e o primeiro coro em latim aparece, seguido pelo Mark. Isso se repete e em 2:48min a Simone entra com o tom de voz totalmente participativo. Ela e o Mark estão ‘se desafiando’, por assim dizer, ao que ele diz que ela não vai conseguir cumprir com sua missão e o refrão dela é: “Try me, don't deny me”, querendo dizer que não a teste porque ela acredita que vai conseguir, maaas, o resto do refrão deixa bem claro, que, pra ela, é uma missão suicida. Até aqui foram miraculosos 4:50min, o que parecia até então um mero piscar de olhos pra quem ouve. Um longo solo Simone com direito aos sons orientais que eu comentei antes vem a seguir. A letra desse momento é:

“I’d rather die
than breathe in my shame
they’ll know my name
all hell in flames”.


Após a Simone, o coro retorna e tem uma longa participação que a Simone encerra ao voltar e, em 7:45min, o instrumental faz um passeio e explora seus potenciais. Claro que essa produção toda só poderia terminar de uma única forma, que é o encaixe perfeito no último refrão eternalizante.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Utopia. não.

"Utopia tem como significado mais comum a ideia de civilização ideal, imaginária, fantástica. Pode referir-se a uma cidade ou a um mundo, sendo possível tanto no futuro, quanto no presente, porém em um paralelo. Pode também ser utilizado para definir um sonho ainda não realizado. Uma fantasia, uma esperança muito forte", fonte.

"Vem a ser o que se imagina como sendo perfeito, ideal, porém imaginário não se sabe ao certo se é possível alcançar ou realizar, é almejado mas apenas utópico", fonte.

A utopia é normalmente relacionada com algum aspecto que almejamos que seja perfeito, rodeado por uma forte esperança e alimentado com profunda (sintoma ou resultado de) irrealização, pois demonstra-se impossível. Mas será? Pra mim, utópico é um mundo cem por cento igualitário, é um mundo onde a moral fique desligada pra não podermos julgar se algo é justo ou injusto, mesmo tudo aquilo que independe de nós. Eu não acredito em algo que seja cem por cento efetivo ou igualitário, porque temos julgamento moral e, a menos que aconteça um acidente bem grande comigo ou com você, essa parte do cérebro vai continuar funcionando e catalogando tudo que é possível perceber - cataloga até, inclusive, a forma de perceber. Acontece que eu não concordo que se não podemos conseguir o ideal, temos também que nos conformar com tudo que acontece do jeitinho que acontece. A questão feminista é vista dessa forma por mim. Não é como se eu não aceitasse que as coisas são do jeito que são e quisesse mudar tudo. Mesmo porque eu estudei história e vi, ao longo dos séculos, como as ideias mudam com uma perspectiva diferente ou educação diferenciada. Também não é toda a estrutura que eu espero que mude, o que eu espero que mude é o respeito. Eu quero ser respeitada. Eu quero andar na rua em paz, assim como a grande maioria dos homens podem fazer. E isso não é briga de 'quero o que eles tem', é briga de quem cansou de ser percebida o tempo todo pela forma como nasceu e só gostaria de ser deixada um pouco mais de lado. Gostaria, mesmo, que a seleção fosse mais rigorosa e não que qualquer mulher fosse assediada aonde quer que vá. Não acredito que querer conquistar essa paz seja utópico, porque não é impossível (existe em outros lugares) nem doloroso. Não é um sacrifício da humanidade pra nada muito maior do que o imaginável, do que o palpável.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Presunção.

Qual é o tamanho da sua presunção? Talvez, esta, seja proporcional à profundidade de ilusão na qual cada um vive. Imaginemos duas correntes: 1) de tudo aquilo que é imaginativo, no sentido mitológico – dentro de um conjunto de crenças falsas do passado ou presente que fazem sentido por estarem interligadas estruturalmente em uma sociedade/cultura/tempo; e 2) e o todo que segue em fluxo, de forma a cair na inércia do pensamento. Assim, caso se refugie em fugas ou raiva de forma irrefletida, está agindo sem pensar e, se por um acaso, estiver consciente e continuar a se esconder, isto pode ser chamado de covardia. E o covarde não pensa de forma ilusória, não se convence de que não precisa participar da vida e de quaisquer escolhas?

É presunçoso todo aquele que acredita em uma única verdade sobre o mundo e os acontecimentos, utilizando como parâmetro somente o próprio ser humano, de forma a partir somente de si e para si, e não calcular consequência, pensar nas próprias ações, entender e compreender.

É presunçoso dizer que sabemos para onde tudo vai e de onde tudo veio, já que mais da metade das pessoas não se conscientiza dos próprios corpos e menos ainda da própria mente, quanto mais de questões complexas que englobam além da sua e da minha percepção limitadas, ainda que combinadas.
É apocalipticamente presunçoso, então, dizer que se entende sobre a vida baseado somente em dados cumulativos: como se a quantidade de anos que se “viveu” e não sequer pensar a respeito da significação de experiências físicas e teóricas e suas respectivas forças.

Presunçosa é a ignorância histórica, acreditar que de fato se está “solto” no tempo, como se nada que viesse antes importasse na construção do presente. E é a mesma ignorância que, mesmo depois da humanidade ter se equivocado sobre a interpretação evolutiva, durante os séculos XIX e XX, nos faz continuarmos acreditando em hierarquias “naturais” de superior e inferior e alimentarmos a exclusão social. Se pensássemos mesmo nisso entenderíamos que cada animal desenvolve o que é necessário para sua sobrevivência, seja isso o que for, e que se não for rápido o suficiente ou se o ambiente mudar, eles podem entrar em extinção. Portanto, o ornitorrinco desenvolveu algo um tanto quanto improvável: eletricidade. Tal animal necessita de algo que chamaríamos de “tecnologia” para sentir as presas e poder caçá-las. Uma aquisição adaptativa e tanto. Nós, por outro lado, precisamos de “inteligência”: interpretação, comunicação e acumulação de informações em longo prazo. Teríamos sumido caso nossos cérebros não se adaptassem às necessidades, pois somos muito frágeis e dependentes: morreríamos com o frio ou mesmo desidratados com facilidade. Somos, de fato, uma espécie peculiar e interessante. Mas não somos o topo da evolução conjugado pelo sentido progressista e hierárquico. Somos, apenas, resultado de uma – longa – adaptação diferente da dos ornitorrincos, e de tantos outros animais fascinantes.


É presunçoso, também, acreditar que o universo gira ao nosso redor, que a Terra é decisiva e imprescindível para o desenvolvimento do resto. O universo e a Terra existiam muito antes de seres humanos aparecerem, e muito depois de perecermos eles continuarão aí. Nem as estrelas, nem os outros planetas, nem os deuses, nem a natureza, nem o que for realmente se importam.

Acredito, enfim, que ambas as linhas do que chamei como ilusão, como citado acima, cruzam-se no infinito e apontam para isto: que ao se autoenganar, viver de inércia, criamos uma mitologia – uma falsa crença – digna de educação, pois somente esta pode superar tal barreira adaptativa: quem sabe nos tornando menos presunçosos podemos ser menos dependentes teoricamente.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Sacolas.

É inevitável não pensar que as coisas voltam ao mesmo ponto, à aquela espiral; o mesmo sentimento renovado apenas pelo motivo que o desencadeou. Você segue a rotina e encontra as mesmices, mentais ou não, elas estão ali. Então você resolve mudá-la um pouco e aquela agitação logo se esvai, tudo não passa de uma enganação. E o pior tipo delas, o tipo que é você mentindo pra si mesmo consciente da falácia.

São só essas sacolas que você já nasce e tem que carregar, sabe? Se você é cristão tem de seguir uma determinada moral, se você se descobre ateu você acha que nada mais tem sentido e vive num niilismo estúpido, esculpido por uma ciência comprada e um intelectualismo com data de validade. Mas em cada grupinho que você se encaixou, você nem tenta ver suas delimitações e cai de cabeça.

Tudo isso me deixa bem triste. Penso que as palavras só existem nelas mesmas e que as pessoas se prenderem a elas a ponto de se definirem com elas todo o tempo como se fossem morrer amanhã de inanição é, no mínimo, muito solitário. Ser isso ou ser aquilo como se a abstração fosse verdadeira, acreditar sem poder ver ou sentir ao mesmo tempo em que você pode explicar, é vazio.

Precisamos acreditar em algo? Minha escassa experiência de vida diz que sim, mas também diz que por tempo limitado. Que você tem o potencial para mudar de escamas e não pode vê-lo porque acha que as sacolas que te deram são as únicas possíveis. E mesmo assim mudamos, só mudamos o superficial e nos agarramos à convicções que existem somente dentro de nós. Vivemos e morremos sem experimentar nada mais verdadeiro do que isso.

E é esse sentimento de cognição que sempre retorna, pelo menos aqui, e me deixa absolutamente cansada de tudo que segue nessa mesma direção. Cada dia mais eu penso que as coisas que aqui me fixam têm de valer a pena, porque senão, não tem porque continuar com a mesma embalagem.

sábado, 11 de maio de 2013

Correlação.

É engraçado que, dentro desses meus poucos anos de vida, eu consiga achar o corpo feminino muito belo, escultural e sexy, mas não o masculino. Na verdade, para ver alguma dessas características em um homem eu preciso forçar bastante ou, então, os traços do rosto devem parecer com os traços femininos, daquilo que é considerado "bonito" no rosto de uma mulher. Bom, vocês sabem o que significa a palavra sexy? Uma pessoa que pode ser atraente ou excitante aos olhares. Então, espera! Eu, mulher, consigo reconhecer isso com relação a outra mulher e não com um homem?! É. E por que será, não é mesmo? Não é porque a mulher é "naturalmente mais bela" ou porque "homens tem mais pelos e são mais barrigudos!". Esses são argumentos rasos e fora de qualquer consciência de construção social. Vivemos o ápice da "objetização" da mulher através de sua imagem. Este fator ligado a alguns outros, tem transformado cada vez mais isso:


Nisso:


Uma coisa, na minha humilde opinião, é termos atração sexual por um ou por outro sexo. Outra coisa bem diferente, é pegarmos um só e levarmos ao máximo de sexualização possível e chamarmos isso de saudável. Eu não vim falar de feminismo hoje, embora seja importante lembrar que qualquer luta por uma situação melhor pra nós, mulheres, nunca matou ninguém. E o machismo mata, diariamente. Sempre que a ideia de posse masculina é ameaçada, o esquema todo se torna um risco enorme pra mulher. Sem falar de estupros. Eu vim falar mesmo de algo que correlacionei com essa exposição constante da mulher. O que vocês sentem quando veem isso:


?

Esse é o Fauno de Barberini. Para quem ainda não sabia, em determinado momento na Grécia, o homem era mais intensamente relacionado ao prazer sexual do que a mulher. A mulher servia como aquela que reproduz. E o prazer sexual era reservado para os ritos de passagem e para o prazer também. Portanto, você encontraria muitas imagens nuas dos homens na Grécia, e não das mulheres. Obviamente que o nu da época, o nu masculino, não tem SÓ essa intenção. Mas fica fácil compreender porque alguma inclinação para isso haveria de ter. No entanto, não lhe falta algo? Não faltou algo ao Sátiro nu? Sim. Ele não é inferior. Ele não serve e vai embora. Não é usado, nem é refeição. Os gregos, no geral,cultuavam essas imagens, elas lhe representavam algo elevado. E as mulheres, o que elas representam para nós mesmo?

sábado, 27 de abril de 2013

Sobre o orgânico.

Eu não vou te dizer hoje o que pensar, como se o prenúncio através de palavras fosse seguido de solidez. O que parece ser captado hoje pelo que chamamos de "consciência", em seguida aparecerá para nós, para a mesma mente, de forma diferente. E de infinitas diferentes maneiras ao longo do tempo.

A única criatura que acabou acreditando poder dar forma ao que não tem - e entender o que não é completamente possível - somos nós. Assim como as únicas criaturas que enfim entendem, e com enorme pesar, a consequência de ser orgânico. Mutável. Não enxergamos, nem pensamos de forma clara ou palpável as clamadas "certezas", mas sabemos, sentimos, angustiamos esta presença, a organicidade.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Às vezes me fascinava a repetição das coisas e às vezes me tomava de medo com elas. Ficava boquiaberto com a quantidade de vícios e falhas que nós, humanos, carregamos e como somos levados, por nós mesmos ou por outros, a agir da mesma forma, mesmo que ruim. Lembrava-me de imaginar quais motivos levariam uma pessoa a ter mais de um filho, ou viajar em frequência tão baixa. Não faz sentido.
Em meio às divagações, algo me arrebatou na cabeça: um avião de papel. Eu me encontro nesse momento em escritório, embora seja um investigador criminal: os casos da cidade me pertencem, mas eu não sei se pertenço a eles. Sou um pessimista.
- Hey! O que é isso? – perguntei rapidamente.
- É só um avião de papel! – disse X, rindo.
- E quantos anos você tem? – comecei a ficar mais sério.
X deu mais um rápido sorriso e uma piscadela. É admirável como ele aparenta facilidade em lidar com tudo, e se demonstra animado, quase sem ligar para o que ocorre. É por isso, penso eu, que eu sou o seu chefe. Nós dois somos solteiros, o que sempre me explicou o fato de que eu ser pessimista não é o motivo de meus relacionamentos não durarem; já que X é otimista, e considerado bonito pelas mulheres que trabalham por aqui.
O que acontece com X é que ele aparenta algo que não pensa realmente e isso se traduz em todas as suas atitudes, ou talvez ele só seja gay e tenha muita vergonha de ser oprimido socialmente por causa disso.
Eu sei que o meu excesso de pensamento tem atrapalhado meu trabalho, uma porque eu assumo mais ideias do que o caso possui; outra que se eu não estou pensando demais no caso, estou pensando muito em outra coisa. Preciso reaprender a me concentrar, como fazia nos velhos tempos quando alcancei meu posto e status de trabalho.
Claro que meu posto não é tudo. Quem dera ele fosse. Muitos novatos querem receber meus casos, eles são mais intrigantes e complicados, por isso eu posso levar meses para solucionar um único caso e as cobranças não são tão ferozes. Já no caso dos novatos, a vida se dá através da febre pelos números. O que conta é a produtividade dos casos e nem sempre há tempo de acertarem com grande precisão.
- Y, tem um caso grande encomendado para você, que tal? – disse meu colega, entregando-me o relatório.
Respirei fundo e dei aquela olhada superficial nos papéis – não me agradava mais nada: assassinatos, raptos, corrupção, casos animalescos, drogas, nada -, foi quando eu li:

Nome criminal: Dart
Crime: assalto organizado
Relato de procedimento: o criminoso usa uma bola que pula, do tamanho de uma bola de ping pong, como distração. Em seguida sempre age de formas diferentes, mas cumpre seu objetivo. Já houve situações nas quais não retirou dinheiro. Normalmente age sozinho, porém houve casos em que outras pessoas compareceram com ele no local do crime. As testemunhas relataram se encontrarem perdidas enquanto Dart resolvia agir. Jamais foram as mesmas pessoas, nem os mesmos lugares.


Confesso que fiquei embasbacado e, na surpresa do momento, consegui perceber uma mosca em meu café. Acontece que eu não estava mais ali, eu estivera ali um segundo antes, mas agora o meu juízo, que sempre se julgou muito sábio, queria ter sua atenção de volta, e dele só se tira passado e medo:
- Uma bola? Esse é o tipo de caso sério que temos de resolver hoje em dia? Você deve estar achando que eu sou um palhaço! – não falei, praticamente cuspi em uma única rajada de fogo que nem vi de onde veio, porém os rastros deixaram reflexos vivos nos olhos de todos ao meu redor. Os olhos me julgaram e disseram que eram melhores do que eu, que nunca se rebaixariam ao meu nível e era só isso que eu queria ver, era tão mais fácil pensar que todos estavam contra mim! Enquanto, na realidade, eles me olhavam sem saber o que pensar. Não aguentei mais, peguei o relatório e levantei abruptamente, dizendo:
- Vou levar! Preciso pensar, mas deixo claro que não é o que eu quero, fiquem sabendo.
Se meu colega soubesse o que dizer, talvez fosse algo como “Você precisa de férias” ou “Por que eu estou nesse cargo aqui e você está nesse cargo aí?”. Meu ódio inflava só de pensar que ele podia estar sentindo pena de mim.
Meu mundo ficou imediatamente sem cores ou, ao menos, eu não conseguia enxergá-las. O caso era ruim e as pessoas nunca entenderiam! Nunca! Logo ao sair do prédio o sol invadiu meu mundo descolorido e o calor ora me aquecia, ora me incomodava, não havia lhe permitido tamanha intimidade.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Procurando pelo novo.

Só vira o charlatão
que era, senão, um fofoqueiro
sem entremeio procurou exterminar,
e logo se orgulhar, do conquistado
foi deixado, portanto, sem dignidade
e piedade, perto do rebosteio.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Ao fim da(s) reta(s).

Não sabia se sorria ou se sofria. Vivia debatendo-se entre paredes em um eterno labirinto dentro de sua mente, o mais sufocante que há de haver. Já havia passado pelas janelas da eternidade, pelas promessas de um futuro brilhante, da crença e do amor. Já havia transitado na dualidade, no claro e no escuro, no sol e na lua, no forte e no fraco. Pareciam não restar muitas opções, mergulhou então na total descrença. Afinal, não há esperança eterna! Nem dualidades no mundo! Nossa cabeça faz tudo, tudo! - Repetia incontáveis vezes. Mas onde caíra? No abismo. Não havia se translocado geograficamente, não. Mas dentro de seus pensamentos o labirinto passara a ser dor. Só dor. Pensava em punições constantes porque não conseguia mais alcançar satisfações significativas. Parecia um redemoinho e, a qualquer tentativa de sair, afogava-se novamente. Eis que mudanças ocorreram em sua rotina e um pingo do otimismo ocidental adentrou seu chapéu. Será que o próximo estágio seria de concluir que não há nada mais que se fazer mesmo? Procuraria válvulas de escape diárias como álcool, drogas, sexo, viagens, loucuras; ou se entregaria ao não-saber, ao estatelar fora da atmosfera, sem oxigênio, deixando-se morrer? Sorria lentamente com essas perguntas de duas mãos. Por que? Por que transformava o mundo em algo tão simplório? Sabia que não era assim, que jamais poderia ser! Porém, o que poderia fazer se o ser humano pode ser tão frágil que precisa construir barreiras de conforto nas dores mais azedas e profundas de sua fugaz existência? Pensava em nada enfim, resmungava algo e recitava algumas palavras ao som do ponto mais alto do dia:

Nada e tudo;
não criaram ainda uma palavra que descreva
os oceanos que entremeiam essas duas distâncias
menos ainda, por sim
pensaram naquelas que poderiam extinguir os dois fins da reta
porque reta não há
direção nunca houve
e solução, talvez, há de ser uma bem infeliz para
nós.

Sofria mais do que sempre sofreu e soltava a única lembrança de alguém importante de suas mãos naquele mesmo vento. O som do objeto caindo na areia eternizou aqueles segundos, quase como se passassem em câmera lenta, o sangue e as lágrimas foram se reunir à mágoa derramada.