quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Moral & escolhas.

I - Valores morais são algo engraçado. Dentro do intelectualismo, ou da arrogância do conhecimento, aqueles que se julgam superiores por acharem que sabem demais invertem a premissa de todas as demais coordenadas que regem a sociedade. Simplifiquemos. Caso você compre algo novo – em nome do obsoleto – isso é “bom”. Se, por outro lado, mantiver itens ou pessoas por muitos anos idênticos em sua vida, isso é “ruim”. Mas se você for um intelectual consciente e concordante da frase “ignorância é uma benção”, você concorda que ignorância é “bom” e saber demais é “ruim” somente na frase, pois na prática a sede de “saber demais” e “mais do que os outros” continua drenando todas as tuas forças, então os valores se invertem e os ignorantes são vermes de esforço e concentração “ruins” e você é, no seu interior egoísta, “bom” – por que não, portanto, superior? Das mais variadas formas de convencer a si mesmo sem lutar – ser “bom” por natureza e ser “ruim” em detrimento de.

II - Não querer jogar fora o pensamento humano, mas jogando-o fora. Como pensar sobre coisas e chegar a conclusões do que ainda não se tem como saber? Digo ainda? Engano-me. Do que talvez não se possa saber? Anos de conhecimento presunçoso acerca de como tudo começou e qual a direção da vida. Sinto lhe dizer, você não sabe. Eu não sei. Ninguém sabe nem é possível saber. As teorias devem existir, claro. Mas como toda teoria ela existe como possibilidade. Do momento que esta adquire caráter doutrinário em diante perde a credibilidade. E como crer em algo sem enfétizar?

III - Ah, a incapacidade dos presunçosos de viverem sem respostas! E a lembrança que ecoa na mente de que a religião é só o máximo de fé possível, pois crer na ciência, na filosofia, em você mesmo ou no nada também requer o mesmo tipo de .

IV - O que é o lugar de cada um senão aquele no qual ruminou o suficiente para se sentar confortavelmente pelos próximos breves minutos de vida? Sem a reflexão, encontramo-nos sentados em sofás, cadeiras ou mesmo barcos que vão à deriva por um oceano sem vida, sem profundidade, sem cor e sem destino. O pensar permite que alguém possa escolher conscientemente onde sentar. Não há julgamento de valor na frase ou, ao menos, não deveria ter. “Pensar” não é melhor do que “não pensar”, mesmo porque entraríamos numa discussão do que é ou deixa de ser “pensar” e criaríamos anos de discussão filosófica ao redor desse tema que, no momento, não vem ao caso. A moral não vem ao caso – o que é concernente à vida é o que fazemos dela e, se alguém não sabe o que faz dela, não vive. Esse é o meu único problema existencial. Todos aqueles que “não sabem viver”, pois, pra mim, se há de ter alguma doutrina, que seja a doutrina da vida! E que agora surja então a questão moral!

V - Ninguém se interessa em mim. Eu sei. Mas que se interessem pelas propostas de minhas ideias e façam delas um ringue para os pensamentos. Que nenhuma ideia simplesmente grude no fundo de seu cérebro sem uma mínima reflexão a respeito. Briguem com as ideias e não com os donos delas.