quinta-feira, 13 de junho de 2013

Presunção.

Qual é o tamanho da sua presunção? Talvez, esta, seja proporcional à profundidade de ilusão na qual cada um vive. Imaginemos duas correntes: 1) de tudo aquilo que é imaginativo, no sentido mitológico – dentro de um conjunto de crenças falsas do passado ou presente que fazem sentido por estarem interligadas estruturalmente em uma sociedade/cultura/tempo; e 2) e o todo que segue em fluxo, de forma a cair na inércia do pensamento. Assim, caso se refugie em fugas ou raiva de forma irrefletida, está agindo sem pensar e, se por um acaso, estiver consciente e continuar a se esconder, isto pode ser chamado de covardia. E o covarde não pensa de forma ilusória, não se convence de que não precisa participar da vida e de quaisquer escolhas?

É presunçoso todo aquele que acredita em uma única verdade sobre o mundo e os acontecimentos, utilizando como parâmetro somente o próprio ser humano, de forma a partir somente de si e para si, e não calcular consequência, pensar nas próprias ações, entender e compreender.

É presunçoso dizer que sabemos para onde tudo vai e de onde tudo veio, já que mais da metade das pessoas não se conscientiza dos próprios corpos e menos ainda da própria mente, quanto mais de questões complexas que englobam além da sua e da minha percepção limitadas, ainda que combinadas.
É apocalipticamente presunçoso, então, dizer que se entende sobre a vida baseado somente em dados cumulativos: como se a quantidade de anos que se “viveu” e não sequer pensar a respeito da significação de experiências físicas e teóricas e suas respectivas forças.

Presunçosa é a ignorância histórica, acreditar que de fato se está “solto” no tempo, como se nada que viesse antes importasse na construção do presente. E é a mesma ignorância que, mesmo depois da humanidade ter se equivocado sobre a interpretação evolutiva, durante os séculos XIX e XX, nos faz continuarmos acreditando em hierarquias “naturais” de superior e inferior e alimentarmos a exclusão social. Se pensássemos mesmo nisso entenderíamos que cada animal desenvolve o que é necessário para sua sobrevivência, seja isso o que for, e que se não for rápido o suficiente ou se o ambiente mudar, eles podem entrar em extinção. Portanto, o ornitorrinco desenvolveu algo um tanto quanto improvável: eletricidade. Tal animal necessita de algo que chamaríamos de “tecnologia” para sentir as presas e poder caçá-las. Uma aquisição adaptativa e tanto. Nós, por outro lado, precisamos de “inteligência”: interpretação, comunicação e acumulação de informações em longo prazo. Teríamos sumido caso nossos cérebros não se adaptassem às necessidades, pois somos muito frágeis e dependentes: morreríamos com o frio ou mesmo desidratados com facilidade. Somos, de fato, uma espécie peculiar e interessante. Mas não somos o topo da evolução conjugado pelo sentido progressista e hierárquico. Somos, apenas, resultado de uma – longa – adaptação diferente da dos ornitorrincos, e de tantos outros animais fascinantes.


É presunçoso, também, acreditar que o universo gira ao nosso redor, que a Terra é decisiva e imprescindível para o desenvolvimento do resto. O universo e a Terra existiam muito antes de seres humanos aparecerem, e muito depois de perecermos eles continuarão aí. Nem as estrelas, nem os outros planetas, nem os deuses, nem a natureza, nem o que for realmente se importam.

Acredito, enfim, que ambas as linhas do que chamei como ilusão, como citado acima, cruzam-se no infinito e apontam para isto: que ao se autoenganar, viver de inércia, criamos uma mitologia – uma falsa crença – digna de educação, pois somente esta pode superar tal barreira adaptativa: quem sabe nos tornando menos presunçosos podemos ser menos dependentes teoricamente.