sábado, 17 de setembro de 2011

Criticizing'n'Overcoming.

“Somente os dias vindouros me pertencem, alguns homens nascem póstumos” - Friedrich Nietzsche.

Pergunto-me que espécie de abordagem vem à cabeça do leitor quando termina de passar seus olhos pela frase acima. Será que ele conclui simplesmente que, quem a escreveu, quis dizer um mero “esse não é o tempo correto pra mim” porque depositava suas esperanças no futuro? Será que ele acha que o futuro é inquirido nessa afirmação de alguma forma? Ou ainda será que ele pensa que o autor dela previa que seria lido e citado de alguma forma com a efervescência que tem sido?

“É difícil especular o que passava por sua mente atormentada quando cunhou tal máxima. Provavelmente estava entorpecido por uma mistura de amargura e ressentimento, no limite da sanidade, ainda que de certo modo consciente do caráter perene de seu pensamento” afirma a Coleção Guias de Filosofia – Nietzsche.

É justamente para fazer uma crítica às alusões contraditórias e de aparência plausível da Coleção que escrevo nesse momento. Em qual ponto? Na introdução do assunto Nietzsche a revista aborda o tema de forma a tornar o filósofo muito mais acessível – até aí completamente compreensível -, mas quais são os seus mecanismos? O exagero e a exaltação.

Vale ressaltar que só há esse ponto no qual o artigo peca, assim como o jornalismo em geral, no que condiz à profundidade e rigor, além da acentuada exaltação de pessoas – esquecendo que não são personagens -, nas demais explicações da matéria é possível dizer que foram cumpridas de forma satisfatória no que concerne ao seu objetivo de inteirar o leitor com curiosidade em relação ao filósofo sobre alguns pontos principais.

De qualquer forma, a afirmação da revista de previsão do filósofo sobre a sua importância futura me remeteu outro pensamento: seria mais cabível considerar Nietzsche um profeta dotado de luz visionária ou, talvez, um mero analista perscrutador das similitudes humanas? Prefiro pensar na segunda opção. E por quê?

Porque é mais coeso pensar: Nietzsche nada previu, Nietzsche analisou minuciosamente a herança histórica de grandes civilizações e, maravilhado com as mesmas e olhando pra modernidade, chegou à conclusão de que na sociedade alemã de sua contemporaneidade a cultura* estava se tornando mercadoria, aparecendo de forma fugaz e perdendo a qualidade e importância em geral.

A visão de tais empobrecimentos sendo valorizada e o tempo acelerando gradualmente faz Nietzsche pensar: “se continuar assim, o futuro tem duas opções: ou as pessoas superarão o niilismo de tais tempos ou elas serão tão carentes de direção que a obra nietzschiana poderá servir para a primeira causa aqui proposta”. É possível que, na mente do filósofo, a leitura de seus escritos viesse a funcionar como um guia para o desnorteamento das mudanças fugazes características da modernidade; não uma predição, somente um passo natural.

* É importante lembrar como o filósofo considera o termo ‘cultura’ para entender o sentido da frase, portanto, o termo é entendido como a produção artística e intelectual.